Varal Cultural

Cantinho para colocarmos manifestações culturais artísticas diversas que dêem cor e embelezem ainda mais a nossa luta. Podemos "pregar" nele músicas, poesias, fotos, vídeos, pinturas, desenhos, tirinhas, etc. Aqui somos convidados/as a deixar a nossa sensibilidade e o nosso lado místico se expressarem livremente, seja nos encontrando na arte do/a outro/a ou desabrochando o/a artista em nós. O encontro de vida entre a arte e a luta!

quinta-feira, 04 de agosto de 2011

O Analfabeto Político
Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.


Sábado, outubro de 2010

Aula de Vôo
Mauro Iasi

O conhecimento
caminha lento feito lagarta.
Primeiro não sabe quem sabe
e voraz contenta-se com cotidiano orvalho
deixado nas folhas vividas das manhãs.

Depois pensa que sabe
e se fecha em si mesmo:
faz muralhas,
cava Trincheiras,
ergue barricadas.
Defendendo o que pensa saber
levanta certeza na forma de muro,
orgulha-se de seu casulo.

Até que maduro
explode em vôos
rindo do tempo que imagina saber
ou guardava preso o que sabia.
Voa alto sua ousadia
reconhecendo o suor dos séculos
no orvalho de cada dia.

Mas o vôo mais belo
descobre uma dia não ser eterno.
É tempo de acasalar:
voltar à terra com seus ovos
à espera de novas e prosaicas lagartas.

O conhecimento é assim:
ri de si mesmo
E de suas certezas.
É meta de forma
matamorfose
movimento
fluir do tempo
que tanto cria como arrasa

a nos mostrar que para o vôo
é preciso tanto o casulo
como a asa.


terça-feira, 07 de dezembro de 2010

Ao Abrir os Olhos
Diego Ferreira

Ao abrir os olhos avisto a desgraça do meu povo
Que de olhos fechados assiste TV e parece não ver
Estampado no espelho as Lágrimas de barrigas cheias de Fome
As mãos vazias cheias do nada
Ofuscadas pelas Luzes que vem da Tela

Vejo a Ordem e o Progresso que de forma Legal e Injusta
Perpetuar a cegueira do meu Povo
Ordem e Progresso torna o que é de DIREITO em CARIDADE

Ao abrir os olhos me vejo na LUTA
Que aos olhos fechados do meu povo é SONHO, é UTOPIA
Que aos olhos fechados do meu povo, quando junto dos que vêem é baderna
Que aos olhos atentos dos que cegam meu povo é ameaça

Ao abrir os olhos vejo um único caminho e ouço duas vozes
Uma que manda fechar os olhos e seguir
E outra que me mantém seguindo.


quinta-feira, 02 de dezembro de 2010

Um Ciclo Evolutivo - Eduardo Marinho


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Alegoria dos Porquês
O tempo batia as asas. No mundo dela era sempre noite. Mesmo de manhã, o céu permanecia no mais completo breu. Cansada daquela mesmice, passou a questionar os porquês de sua existência e da origem do mundo no qual vivia. Procurava a lógica dos fatos e se perdia em suas próprias explicações. Uma idéia fixa martelava em sua cabeça: precisava sair dali e descobrir se tudo era sempre daquele jeito ou se lá longe, bem distante, haveria uma outra realidade. E pôs-se a caminhar. Todo chão era pouco perto do desejo que a movia. E então chegou numa das pontas do mundo: tudo continuava a ser sempre daquele jeito e lá longe, bem distante, não havia nenhuma outra realidade. Deu a volta e seguiu obstinada. Quanto mais andava mais sentia o tamanhão do mundo. De seus pés brotavam calos. O corpo padecia, descascava, transmutava. E os porquês se tornavam cada vez mais audíveis reverberando nos quartos de seu coração. E no que cruzou o sul, o norte, o leste e o oeste do mundo: tudo continuava a ser sempre daquele jeito e lá longe, bem distante, não havia nenhuma outra realidade. Quanto mais andava, mais sentia o tamanhinho do mundo. Não havia mais pra onde ir e seu corpo também não suportava mais acompanhar o ritmo frenético dos porquês de sua cabeça. A massa corpórea dela padecia, pipocava, inchava. Achou que fosse morrer naquele instante e quando olhou de volta para si foi que percebeu a transformação. O corpo dela havia crescido tanto que já não cabia em seu mundo. Com toda aquela pressão, o céu foi se rasgando vagarosamente até revelar a luz. Em seu novo mundo era sempre dia. Mesmo de noite, as estrelas garantiam uma luminosidade que ela jamais poderia prever enquanto lagarta andante dentro da caixa de sapato. Agora era diferente. Ela batia as asas.
[Texto inspirado na música "Realejo" de Fernando Anitelli;
Retirado do livro "O Teatro Mágico em Palavras" de Maíra Viana.]


domingo, 28 de novembro de 2010



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